“ A primeira de todas as forças que dirigem o mundo é a mentira” Jean François-Revel

O País que não merece ser desenvolvido

(a publicação deste artigo prende-se apenas pelo espanto que provocou na minha percepção do País)

"PORTUGAL FEZ TUDO ERRADO, MAS CORREU TUDO BEM.

Esta é a conclusão de um relatório internacional recente sobre o desenvolvimento português.

Havia até agora no mundo países desenvolvidos, subdesenvolvidos e em vias de desenvolvimento. Mas acabou de ser criada uma nova categoria: os países que não deveriam ser desenvolvidos. Trata-se de regiões que fizeram tudo o que podiam para estragar o seu processo de desenvolvimento e... falharam.

Hoje são países industrializados e modernos, mas por engano. Segundo a fundação europeia que criou esta nova classificação, no estudo a que o DN teve acesso, este grupo de países especiais é muito pequeno. Alias, tem mesmo um só elemento: Portugal (ascensão de um novo paradigma).

A Fundação Richard Zwentzerg (FRZ), iniciou há uns meses um grande trabalho sobre a estratégia económica de longo prazo. Tomando a evolução global da segunda metade do século XX, os cientistas da FRZ procuraram isolar as razões que motivavam os grandes falhanços no progresso. O estudo, naturalmente, pensava centrar-se nos países em decadência. Mas, para grande surpresa dos investigadores, os mais altos índices de aselhice económica foram detectados em Portugal, um dos países que tinha também uma das mais elevadas dinâmicas de progresso.

Desconcertados, acabam de publicar, à margem da cimeira de Lisboa, os seus resultados num pequeno relatório bem eloquente, intitulado: "O País Que Não Devia Ser Desenvolvido"

O Sucesso Inesperado dos Incríveis Erros Económicos Portugueses.

Num primeiro capítulo, o relatório documenta o notável comportamento da economia portuguesa no último meio século. De 1950 a 2000, o nosso produto aumentou quase nove vezes, com uma taxa de crescimento anual sustentada de 4,5 por cento durante os longos 50 anos. Esse crescimento aproximou-nos decisivamente do nível dos países ricos. Em 1950, o produto de Portugal tinha uma posição a cerca de 35 por cento do valor médio das regiões desenvolvidas. Hoje ultrapassa o dobro desse nível, estando acima dos 70 por cento, apesar do forte crescimento que essas economias também registaram no período. Na generalidade dos outros indicadores de bem-estar, a evolução portuguesa foi também notável.

Temos mais médicos por habitante que muitos países ricos. A mortalidade infantil caiu de quase 90 por mil, em 1960, para menos de sete por mil agora. A taxa de analfabetismo reduziu-se de 40 por cento em 1950 para dez por cento.

Actualmente a esperança de vida ao nascer dos portugueses aumentou 18 anos no mesmo período. O relatório refere que esta evolução é uma das mais impressionantes, sustentadas e sólidas do século XX. Ela só foi ultrapassada por um punhado de países que, para mais, estão agora alguns deles em graves dificuldades no Extremo Oriente. Portugal, pelo contrário, é membro activo e empenhado da União Europeia, com grande estabilidade democrática e solidez institucional. Segundo a FRZ, o nosso país tem um dos processos de desenvolvimento mais bem sucedidos no mundo actual.

Mas, quando se olha para a estratégia económica portuguesa, tudo parece ser ao contrário do que deveria ser. Segundo a Fundação, Portugal, com as políticas e orientações que seguiu nas últimas décadas, deveria agora estar na miséria. O nosso país não pode ser desenvolvido. Quais são os factores que, segundo os especialistas, criam um desenvolvimento equilibrado e saudável? Um dos mais importantes é, sem dúvida, a educação.

Ora Portugal tem, segundo o relatório, um sistema educativo horrível e que tem piorado com o tempo. O nível de formação dos portugueses é ridículo quando comparado com qualquer outro país sério. As crianças portuguesas revelam níveis de conhecimentos semelhantes às de países miseráveis. Há falta gritante de quadros qualificados. É evidente que, com educação como esta, Portugal não pode ter tido o desenvolvimento que teve. Um outro elemento muito referido nas análises é a liberdade económica e a estabilidade institucional. Portugal tem, tradicionalmente, um dos sectores públicos mais paternalista, interventor e instável do mundo, segundo a FRZ. Desde o "condicionamento industrial" salazarista às negociações com grupos económicos actuais, as empresas portuguesas vivem num clima de intensa discricionariedade, manipulação, burocracia e clientelismo. O sistema fiscal português é injusto, paralisante e está em crescimento explosivo. A regulamentação económica é arbitrária, omnipresente e bloqueante.

É óbvio que, com autoridades económicas deste calibre, diz o relatório, o crescimento português tinha de estar irremediavelmente condenado desde o início. O estudo da Fundação continua o rol de aselhices, deficiências e incapacidades da nossa economia. Da falta de sentido de mercado dos empresários e gestores à reduzida integração externa das empresas; da paralisia do sistema judicial à inoperância financeira; do sistema arcaico de distribuição à ausência de investigação em tecnologias. Em todos estes casos, e em muitos outros, a conclusão óbvia é sempre a mesma:

- Portugal não pode ser um país em forte desenvolvimento.

Os cientistas da Fundação não escondem a sua perplexidade.

Citando as próprias palavras do texto:

"Como conseguiu Portugal, no meio de tanta asneira, tolice e desperdício, um tal nível de desenvolvimento?"

A resposta, simples, é que ninguém sabe.

Há anos que os intelectuais portugueses têm dito que o País está a ir por mau caminho. E estão carregados de razão. Só que, todos os anos, o País cresce mais um bocadinho. A única explicação adiantada pelo texto, mas que não é satisfatória, é a incrível capacidade de improvisação, engenho e "desenrascanço" do povo português. No meio de condições que, para qualquer outra sociedade, criariam o desastre, os portugueses conseguem desembrulhar-se de forma incrível e inexplicável."

O texto termina dizendo:

"O que este povo não faria se tivesse uma estratégia certa?"

João César das Neves

Heróis Nacionais

Federação Portuguesa de Futebol pede isenção fiscal (IRS), para os prémios dos jogadores (50 mil euros por jogador).

Poderia abordar este tema no sentido da crítica ao salário auferido pelos jogadores portugueses quer nos seus clubes, quer na selecção nacional, contudo julgo que já muitos o fazem, daí que me pareça mais evidente abordar esta intenção da FPF.
Só para se entender melhor o que realmente pensa o Presidente da Federação de Futebol sobre o papel do Estado no dito desporto, deixo aqui dois excertos noticiosos relativos à incongruência da pessoa em questão.
Nota: O Orçamento de Estado contempla todos os anos uma verba para a FPF através do Ministério do Desporto.


“Gilberto Madaíl entende que o futebol português não necessita do dinheiro do Orçamento de Estado. Para o presidente da Federação Portuguesa de Futebol, este desporto necessitava sim de novas competências e autonomia.
O presidente da Federação Portuguesa de Futebol considerou que o organismo que preside não tem necessidade do dinheiro do Estado, caso este ganhe novas competências e autonomia.
«O futebol é um contribuinte líquido do Estado. Não vivemos do dinheiro do Estado e podemos prescindir do Orçamento de Estado em qualquer momento se nos forem dadas as competências que achamos que o futebol deve ter», explicou Gilberto Madaíl.” in Agência Financeira

1ª Conclusão: Não precisamos do Estado.

“A Federação Portuguesa de Futebol vai pedir ao Governo que isente de IRS os prémios de participação no Mundial que serão pagos aos jogadores, cerca de 50 mil euros por cabeça, noticia o «Jornal de Negócios».
A Federação Portuguesa de Futebol (FPF) entende que os prémios de presença e em função do resultado que os jogadores da selecção receberam pela sua participação no Mundial da Alemanha (no qual ficaram em quarto lugar entre 32 equipas) devem ficar isentos de imposto porque a Selecção contribuiu para a «divulgação e prestígio» do país.
O presidente da FPF, Gilberto Madaíl, disse ao «Jornal de Negócios» que «a pretensão vem de anos anteriores», mas agora, mais uma vez, «há a firme intenção de repetir o pedido junto do Governo uma vez que entendemos que esta isenção decorre dos princípios e das normas legais em vigor».
Em causa está o nº5 do artigo 13º do Código do IRS, que dispõe que este imposto «não incide sobre os prémios atribuídos aos praticantes de alta competição, bem como aos respectivos treinadores, por classificações relevantes obtidas em provas desportivas de elevado prestígio e nível competitivo».
O director desportivo da Federação, Carlos Godinho, admitiu ao JdN que antes do Campeonato do Mundo na Alemanha a «FPF voltou a equacionar a questão internamente e em contactos com os jogadores».
O jornal refere que Gilberto Madaíl está a preparar-se para apresentar ao Governo uma exposição e acrescenta que a decisão ficará nas mãos de Pedro Silva Pereira, que tutela a pasta do Desporto, e do ministro das Finanças, Teixeira dos Santos.
«As selecções nacionais têm obtido, na última década, relevantes resultados internacionais, que muito têm contribuído para a divulgação do prestígio do País no exterior, situação que é justificada pelo lugar que ocupa actualmente o futebol português a nível mundial», lê-se no último dos documentos enviados ao Governo, a que o jornal teve acesso. in Agência Financeira

2ª Conclusão: Precisamos do Estado para algumas coisas.

Moralmente ultrajoso!

3ª Conclusão: Os Portugueses não precisam disto.

Finalmente uma boa notícia!

(Obviamente devem ter reparado que não tenho colocado posts nos últimos tempos, contudo creio que existem hoje razões mais que justificadas para o fazer, por isso aqui fica um bem pequeno.)

Finalmente eis que surge uma evolução na economia portuguesa cuja taxa de crescimento apontada é de 1,0%.

Será motivo para nos regozijarmos? O primeiro-ministro considera que sim.

Eu, já deixei de considerar.

Estudos e mais estudos..

Muito se tem falado e escrito sobre o descontentamento da juventude portuguesa no modo como a sua democracia funciona e na suposta imobilidade do povo português pela procura de trabalho. A estas conclusões chegaram estudos levados a cabo pelo Secretário de Estado da Juventude e Desporto e pelo IEFP (Instituto de Emprego e Formação Profissional). Haveria muito a escrever sobre estes resultados, que critérios e metodologia suportam tais teses e quem realmente servem, se é que servirão para algum efeito. Podem-nos acusar de muita coisa, menos de “estudo” veja-se a quantidade de jovens licenciados no desemprego, portanto estudiosos. Este tipo de estudo sempre foi feito, uma vez levantado o problema, agimos sempre da forma mais célere possível para uma breve resolução do mesmo. Temo uma vez mais que não seja valorizado o real profissionalismo e empenho dos nossos decisores políticos.

O estudo, o conhecimento, a sabedoria apenas nos fornecem fundações basilares teóricas sobre como devemos aplicar os conceitos e reger a nossa acção mediante determinados valores que esses mesmos conceitos sustentam.

Portugal atulhou-se de falsos teóricos.

Desígnio Utópico

A ideia de utopia pressupõe algo inatingível e irreal, todavia proponho-me a questionar a definição desse termo dada muitas vezes por adquirida. Se a utopia é algo inacessível, então porque tanto, mas tanto no quotidiano se anseia? Onde está essa ilha que Thomas More tão bem descreveu e cuja assegurou a felicidade geral? Para isso responderei da melhor forma que encontrei, que não é nada mais do que o levantar de algumas questões:

Será a guerra contra a necessidade uma utopia?

Será utópico pensar não impor ao homem tarefas, tendo por base a ideia de cidadão-produtor?

Será utópico achar que o ócio apenas leva ao comodismo e à inacção?

Seria utópico pensar um retorno à origem, em que a mera constatação dos verdadeiros direitos naturais se sobrepõe a qualquer tentativa de sua deturpação?

Será utópico considerar a redução da pessoa à plena adoração da vida?

Não. Se tudo isto de utópico se tratasse julgaria não querê-lo, admito poder estar errado, contudo esse erro encerra em si aquela mesma ideia de utopia…

Concluo este artigo com Agostinho da Silva: “..um império do futuro precavido e purgado dos males que arruinaram os anteriores, sem manias de mando, ambições de ter e de poder, sem trabalho obrigatório, sem prisões e sem classes sociais, sem crises ideológicas e metafísicas. Esse já não era o império europeu, dessa Europa ávida de saber e de poder, e por isso esgotada como modelo para os outros 80% da humanidade, menos ávida de poder e mais preocupada com o ser.”

ACR

Alguns Dados Históricos..

Aconteceu neste mês:

1703. Portugal rompe relações com Espanha e França aliando-se a Inglaterra e Holanda.

1773. Coimbra recebe os primeiros instrumentos de física experimental e astronomia.

1890. "A Portuguesa", o actual hino nacional, é executado pela primeira vez, num sarau realizado em Lisboa.

1891. Empréstimo, de 36.000 contos, concedido ao estado português por financeiros portugueses, franceses e alemães em troca do monopólio do tabaco. Os financeiros portugueses mais importantes são Henry de Burnay e a Casa Fonsecas, Santos e Viana.

1948. Portugal e os Estados Unidos da América assinam um acordo que concede facilidades militares nos Açores às Forças Armadas americanas.

Um cheiro de poesia..

"Compreendi que a vida não é uma sonata que, para realizar sua beleza, tem de ser tocada até o fim. Dei-me conta, ao contrário, de que a vida é um álbum de minissonatas. Cada momento de beleza vivido e amado, por efêmero que seja, é uma experiência completa que está destinada à eternidade. Um único momento de beleza e de amor justifica a vida inteira".

Do Subsidiado ao que Subsidia

(Gostaria de vos expor este artigo de forma clara e concreta, até para não tornar a vossa leitura muito maçadora.)

Como sabemos, Portugal desenvolveu-se nos últimos anos, não só pelo trabalho comum efectivado pelos seus cidadãos, bem como pela “generosidade” dos nossos, dito por muitos e evitado por muitos, irmãos da UE. Esta tende a findar e pelos vistos o fim está próximo, pois deixaremos de ser um Estado subsidiado para ser um Estado que subsidia.

A questão coloca-se, no meu ponto de vista, do seguinte modo: E agora meus amigos? Proporcionámos-lhes meios financeiros para o vosso desenvolvimento, chegou a hora de contribuir.

Se bem conheço Portugal, para ser mais preciso, os governos portugueses, e porque o contribuinte português não é nada mais que o espelho do seu Estado, muito provavelmente irar-se-á conceber uma justificação que vise o adiamento por mais uns tempos desta questão invocando razões não de calamidade pública, mas desespero público. Sim, desespero público, porque por algum motivo os governos portugueses ainda não utilizaram este termo no diálogo político. Julgo ser agora o momento certo, senão vejamos:

- ½ milhão de desempregados (entre os quais 43/53 mil licenciados);

- o envelhecimento da nossa população potencia um cenário económico bastante frágil;

- os dados resultantes da análise das exportações de bens são muito baixos comparativamente com os das importações (um País que importa muito mais do que exporta, revela claramente a debilidade da sua Economia);

- a justiça não é célere e pelos vistos nem tão justa quanto devia (na minha opinião quanto maior a condescendência dos cidadãos de um país para com os que incorrem na prática de crime, maiores serão os índices de criminalidade desse país);

- a dívida da administração central é preocupante;

- na saúde, um estudo sobre as maternidades portuguesas evidenciava os seguintes resultados: 1/3 dos hospitais estão sem condições para partos (cerca de 10% dos bebes portugueses nascem sem as devidas precauções de segurança no que respeita à falta de médicos e enfermeiros, concluindo-se portanto, “tramados logo à nascença”. Para não falar no aumento das taxas moderadoras do serviço nacional de saúde (mais uma medida cega).

Enunciados estão, alguns exemplos bastante demonstrativos da situação real em que o país se encontra. É exactamente para isto que o voto do cidadão contribui. É precisamente esta a República que tanto amo e que apresentamos ao mundo.

Os doutos intelectuais (e refiro-me à presente classe política), gostam de reiterar o seguinte: … mas se as pessoas estão descontentes, então que reclamem junto de associações existentes ou criem movimentos de cidadania (veja-se o exemplo de Manuel Alegre, o que já promoveu e conquistou), e aí exponham o seu descontentamento, pois o Governo será sensível a esse tipo de manifestação.
Perante isto faço um mero ensaio: será que nenhum assessor do governo ou ministro, por exemplo, conhecem ou navegam pela blogosfera? Sei que é um termo novo, mas só o alheado não vê a real dimensão e o movimento público (esse sim verdadeiro e isento de qualquer espectro corporativo), que gera nos dias de hoje …talvez o plano tecnológico aí ainda não tenha chegado.

Por outro lado, não me venham falar de estudos europeus que demonstram o grau de optimismo dos portugueses na retoma económica. Segundo esse estudo, e visto sermos na actualidade o bode expiatório da Europa, somos o País que apresenta maior descrença. Porque será?

Entrando já numa fase de conclusão, creio que os subsidiados de quem falo, o meu povo, têm uma oportunidade, creio no meu País e no que conquistou ao longo destes séculos, essencialmente o respeito dos que agora subsidiam, pois até eles há algum tempo atrás foram subsidiados, vejamos os descobrimentos.

Não desejo, com este artigo, ser mais um céptico radical até porque no seu sentido tradicional, o cepticismo profundo é auto-refutante e acaba por não induzir nenhum processo racional, contudo, reconheço enraízado um “cepticismo epistemológico” referente à análise que faço sobre a eficácia e justeza de algumas decisões governamentais.

ACR

Couves e Bolas de Golfe

(...)

“Há um egoísmo perfeitamente catastrófico que caracteriza os portugueses. No seu dia-a-dia, desde que tenha resolvido o seu problemazinho e possa comer o seu bifinho com batatas fritas ou o seu bacalhauzinho, já tira daí um prazerzinho que o deixa satisfeito. O Eça usou todos esses diminutivos com razão, porque tudo é pequeno, da dimensão ao espírito. Satisfazem-se com pouco.

Outra característica dos portugueses é ter medo do risco, podem cair no ridículo, que fica muito mal. Ora para fazer grandes coisas, é preciso arriscar cair do trapézio. Mas os portugueses preferem trabalhar com rede ou então a um metro do chão. Os Descobrimentos foram uma necessidade porque essa gente que vinha do Norte do País, a cair de fome e a morrer pelo caminho, não tinha outra hipótese. E não esqueçamos os mercenários. Os relatos deixam-nos imaginar o tormento daquelas viagens, com doenças e sem comida, em condições de puro desespero. Depois, lá veio a mitificação histórica. Obviamente haveria alguns, poucos, a começar pelo infante D. Henrique, que teriam o seu projecto de alargar a Terra, de chegar a qualquer lado e de tirar lucro, que é o que faz correr o homem. O Camões diz textualmente, n’Os Lusíadas, que «nunca houve nação, nem bárbara, que prezasse tão pouco as artes como a portuguesa». E o padre António Vieira dizia, naquelas etimologias divertidas, que o mundo é mundo porque, por antífrase, é imundo tal como a Lusitânia se chama assim já que não deixa luzir ninguém por causa da inveja. E podíamos continuar com o Eça, com o António Nobre, com os que reflectiram porque tiveram oportunidade de comparar... (...).

(...)

Enquanto a Europa é urbana e civilizada há muito tempo, em Portugal o crescimento faz-se por saltos muito grandes. Temos a ideia de que o progresso é deitar fora o que há e substituir pelo novo, o que mostra que não o conseguimos integrar. Em cada época, há elementos que definem o novo-riquismo. No século XVI, o embaixador do Papa escrevia para Roma a dizer que não entendia porque é que o barbeiro, um homem muito pobre, tinha um pretinho para lhe carregar a bacia quando ia fazer a barba a casa do cliente. Na Segunda Guerra, houve o boom dos novos-ricos do volfrâmio e dizia-se que eles comiam a sardinha assada com pão-de-ló. Hoje continua e, apesar do novo-riquismo destes anos em que já somos europeus, basta por o pé para lá da fronteira para perceber que somos cada vez menos em termos culturais. Temos o mito das melhores praias, dos melhores vinhos, mas quanto tempo vão durar? Há terrenos próximos de Lisboa, na zona do Ribatejo, que estavam classificados para agricultura exclusivamente. Há três ou quatro anos saiu um decreto que permite utilizá-los para campos de golfe desde que sejam reconvertíveis. Daqui a 15 anos, comeremos bolas de golfe em vez de couves...”

Alberto Pimenta

in “Diário de Notícias, 29 de Janeiro de 1995”

"Geração Mil Euros"

“Em Espanha e na Itália, chamam-lhes a «geração mil euros». Na Alemanha e em França, pretende-se criar um novo estatuto para eles, entre o precário e o estável. A Leste, os novos países da União Europeia exigem maior liberdade de circulação para os seus assalariados e diplomados. E em Estrasburgo, vota-se uma nova versão da Directiva Bolkestein! O mercado de trabalho europeu oscila e os jovens estão na corda bamba. Estão na casa dos 30, têm diplomas, mas tiraram assinatura de empregos precários e mal pagos. Vivem um dia de cada vez. Boa sorte, que bem precisam!


CONDENADOS aos Mil Euros

Em meados de Agosto, recebemos no jornal uma carta que anunciava o aparecimento de uma nova classe social. Intitulada «Sou uma mil-eurista», dizia designadamente: «O mil-eurista é um jovem diplomado, que sabe línguas estrangeiras, possui mestrados, doutoramentos, estágios de formação [...] e que não ganha mais de mil euros. Gasta mais de um terço do salário no aluguer. Não põe dinheiro de parte, não é proprietário, não tem carro nem filhos, vive um dia de cada vez. Às vezes é divertido, mas à força é cansativo.»

A autora da carta, Carolina Alguacil, de 27 anos, reside no centro de Barcelona e trabalha numa agência de publicidade. Vive com três co-locatárias, uma de 24 anos e as outras duas de 29. Nenhuma delas ganha o suficiente para alugar um apartamento sozinha. Pagam 360 euros cada e formam uma estranha família, unida, cujos membros se conhecem há menos de um ano. «Toda a gente com quem me dou está na mesma situação», acrescenta Carolina. «Tenho uma amiga que trabalha numa editora de Madrid por mil euros mensais; o meu irmão é engenheiro na Andaluzia e o caso é semelhante, tal como o da minha cunhada, licenciada em Ciências do Ambiente. Não é que vivamos mal, até somos privilegiados aos olhos de alguns, mas não é o que esperávamos».

Um recente relatório Eurydice (rede de informação sobre a Educação na Europa), aponta no mesmo sentido: em Espanha, apenas 40 por cento dos diplomados do ensino superior têm um emprego correspondente ao seu nível de estudos e o desemprego atinge 11,5 por cento dos diplomados com idades entre os 25 e os 34 anos, uma das taxas mais elevadas da Europa (a média situa-se à volta de 6,5 por cento). Os espanhóis nascidos entre 1965 e 1980 tiveram uma infância confortável, pais dedicados e responsáveis e cresceram num país moderno e optimista que se desenvolvia a grande velocidade. É certo que houve duas crises económicas (1974 e 1992), mas toda a gente estava convencida de que essa geração, a mais bem formada da história de Espanha — e também a mais numerosa —, viveria melhor do que todas as anteriores.


EXPECTATIVAS Perdidas

Foi preciso perder as ilusões e é aí que reside uma grande parte do problema, segundo o sociólogo Enrique Gil Calvo. «Estes jovens tinham expectativas», explica. «A geração anterior (nasci em 1946), cresceu com as vacas gordas e pôde matar o pai, ou seja, fazer tudo melhor do que ele: melhor alojamento, melhor emprego... Mas, para estes ‘mil-euristas’ que, paradoxalmente, tiveram melhores possibilidades em matéria de estudos, o futuro não cumpriu as suas promessas».

Carolina tem duas horas para almoçar. Hoje, escolheu um restaurante que propõe um menu a 7 euros, coisa que ela nem sempre se pode permitir. Pede um prato indiano com grão e conta: «O pior é que não sei como vai ser o meu futuro. Uma família como a dos meus pais já não é o objectivo. Mas qual é o objectivo?» Não experimenta nenhum sentimento de derrota, mas fala de um grande desencorajamento. Com efeito, à medida que avança em idade, o mil-eurista torna-se cada vez mais amargo.

Belén Bañeres tem 37 anos, vive em Madrid e sente que «chega sempre tarde». Estudou Psicologia. Há 14 anos que não pára de mudar de trabalho. Nunca teve um lugar relacionado com a sua formação. Nunca ganhou mais de mil euros brutos por mês. Há apenas um ano que trabalha com contrato de duração indeterminada, como administrativa. Desde então, conseguiu alugar um apartamento com o seu companheiro, outro trintão diplomado que ganha mil euros por mês. Parece-lhe quase impossível vir a ser proprietária. É difícil ver como poderiam ter filhos. «Com os horários que temos, nem sequer poderíamos tratar de um cão», diz. E, depois de ter resumido a sua biografia, conclui: «Também tenho a impressão de que me roubaram a vida».

Luis Garrido, professor de sociologia na Universidade Nacional de Ensino à Distância (UNED), pensa que este desencorajamento se explica em parte pela superabundância de diplomados: «Nasci em 1956 e, quando andava na faculdade, só 10 por cento dos jovens, na sua maioria rapazes, conseguiam uma licenciatura. Evidentemente que esses 10 por cento se apossaram dos lugares mais importantes. De repente, as pessoas da minha geração viram que com estudos se podia ir longe e transmitiram isso aos filhos». Mas, prossegue Garrido, «a partir dos anos 80, o número de inscritos nas universidades multiplicou-se e ultrapassou os 30 por cento. As mulheres afluíram em massa. Houve uma reviravolta educativa como em nenhuma outra parte da Europa e, de repente, já não havia bons empregos para todos. Isto gerou uma massa importante de jovens frustrados, que fizeram longos estudos, mas não tiram proveito disso e que não ganham o suficiente...».

As coisas não são mais fáceis para os mais jovens representantes dessa geração, como mostra o exemplo de Daniel Castillejo, de 29 anos, natural de Sevilha: «Sou arquitecto, falo três línguas e ganho menos de mil euros por mês, por um trabalho sem contrato, num atelier de arquitectura. Nunca tive contrato, nem férias nem décimo terceiro mês, tenho um carro com quinze anos, vivo com a minha namorada num apartamento alugado e, este mês, deixei de comprar o jornal todos os dias porque não posso permitir-me gastar mais 30 euros. Não acredito que nos tenham enganado. Acredito, isso sim, que estão a preparar-se para nos atirar para o caixote do lixo».


VIDAS de Eternos Estudantes

Às terças e quintas-feiras, Carolina tem aulas de flamengo na escola de dança Flamenkita, pelas quais paga 50 euros por mês. Uma hora não dá para fazer grande coisa: alguns movimentos de pulso, alguns passos de fandango... Mas isto basta a Carolina, porque dançar a descontrai. Contudo, como boa «mil-eurista», teve que fazer escolhas:«Inscrevi-me no flamengo e deixei de ir à piscina, porque não podia pagar as duas coisas».

A noite já caiu quando o autocarro a deixa perto de casa. As suas três co-locatárias já lá estão. Sentam-se no sofá da sala. Laura Caro, 29 anos, é especialista em «marketing» e põe dinheiro de parte para fazer um segundo mestrado. Ainara Barrenechea, 24 anos, estudou Direito e trabalha no serviço de contabilidade de uma grande empresa. Belén Simón, 29 anos, estudou História de Arte e trabalha num centro cultural. Contam umas às outras como correu o dia. As quatro jovens têm agora contratos de trabalho. Mas nem sempre foi assim. Tiraram proveito do último impulso económico: presentemente, a Espanha tem 19 milhões de activos, contra 12 milhões em 1995. Apesar de tudo, elas foram vítimas da precariedade que perseguiu os jovens da sua geração: em 2004, 52 por cento dos jovens de 30 anos tinham um contrato temporário. Em 1995, eram 62 por cento. E, sobretudo, com os seus mil euros por mês, não puderam emancipar-se por completo (independentes relativamente aos pais, continuam dependentes das suas co-locatárias), assistindo, estupefactas, como milhões de outros jovens, à escalada dos preços do imobiliário. Com a idade delas, os pais de Carolina e de Laura já eram proprietários da sua habitação (ou quase). Carolina possui unicamente a cama do seu quarto, uma mesa de trabalho, dobrada a um canto e um aparador moderno, vermelho, onde guarda os livros. No tempo dos seus pais, a taxa de natalidade era quase de três filhos por mulher. No fim dos anos 90, esses filhos fizeram-na descer para 1,1, a taxa mais baixa do mundo. Não é que elas não queiram ter filhos. O problema é que o relógio biológico não lhes dá tempo para esperar o «estatuto» que consideram necessário para procriar. São 23 horas. O apartamento de Carolina, Laura, Ainara e Belén começa a encher-se: chegam amigos de uma ou de outra, puxam de latas de cerveja. Riem, fazem projectos de saídas. Carolina sorri: «É sempre assim. As pessoas aparecem sem combinar, como no tempo em que éramos estudantes. É um bocado uma vida de eternos estudantes. O problema é que já não somos estudantes. É simpático, mas...» Mas, à força, é cansativo."

Antonio Jiménez Barca

Directiva Bolkestein

«Os serviços representam mais de dois terços da actividade económica e dos empregos na Europa. No entanto, os prestadores não beneficiam plenamente do mercado interno», observa o «Financial Times». Daí o projecto de directiva apresentado em 2004 pelo então comissário europeu do Mercado Interno, Frits Bolkestein, cuja aprovação no Parlamento Europeu era o cenário mais provável à hora de fecho desta edição. O princípio do país de origem, o ponto mais contestado do texto, foi abandonado. Este artigo permitia às empresas oferecerem serviços num dado país, mas com a actividade regida pelas leis do Estado de origem. E foi substituído por uma cláusula que garante o livre acesso dos prestadores de serviços aos Estados-membros da União Europeia. Mas conservou-se a possibilidade de os países restringirem o acesso ao seu mercado por razões de segurança, saúde pública, protecção ambiental, política social. Se tiver passado no hemiciclo, a directiva será submetida à aprovação dos Estados. «Este ano, isso deverá ser fácil, embora persistam grandes divergências, por exemplo, entre as posições da França e do Reino Unido, enquanto o Governo de coligação alemão não conseguiu chegar a uma posição única. Em Bruxelas, porém, espera-se que o Parlamento produza uma nova versão do texto, lançando as bases de um compromisso entre as capitais europeias»

Fonte: COURRIER INTERNACIONAL - EDIÇÃO PORTUGUESA

Alguns Dados Históricos..

Como sabemos a história faz-se de registos. Por isso, será frequente dar-vos a conhecer alguns dados históricos dessa mesma história, a nossa história.

Aconteceu neste mês:

1503 Dia 13. Acordo com os Alemães Welser (banqueiros), para a venda de mercadorias provindas da Índia.

1537 Dia 9. Colocação dos estudos na cidade de Coimbra. Esta decisão de D. João III veio trazer mais dinamismo à Universidade, com a vinda de mestres portugueses formados em Salamanca, Paris e Alcalá de Henares.

1763 Dia 10. Celebração do Tratado de Paz Luso-Espanhol.
A necessidade de reforçar o poder português na costa brasileira, em especial na zona central da baía de Guanabara, alvo de corso e pirataria, espanhola, inglesa, francesa, e para fortalecimento da vila de S. Sebastião, o Governo Geral do Brasil deslocou-se da Bahia para o Rio de Janeiro.

1965 Dia 13. Assassinato de Humberto Delgado pela PIDE/DGS.
Humberto Delgado foi assassinado junto à Ribeira de Olivença, na propriedade de "Los Almerines", curso de água que separa o território de Olivença do de Badajoz, tendo o seu corpo sido abandonado junto de Villanueva del Fresno onde existe um monumento comemorativo.