Desígnio Utópico

A ideia de utopia pressupõe algo inatingível e irreal, todavia proponho-me a questionar a definição desse termo dada muitas vezes por adquirida. Se a utopia é algo inacessível, então porque tanto, mas tanto no quotidiano se anseia? Onde está essa ilha que Thomas More tão bem descreveu e cuja assegurou a felicidade geral? Para isso responderei da melhor forma que encontrei, que não é nada mais do que o levantar de algumas questões:

Será a guerra contra a necessidade uma utopia?

Será utópico pensar não impor ao homem tarefas, tendo por base a ideia de cidadão-produtor?

Será utópico achar que o ócio apenas leva ao comodismo e à inacção?

Seria utópico pensar um retorno à origem, em que a mera constatação dos verdadeiros direitos naturais se sobrepõe a qualquer tentativa de sua deturpação?

Será utópico considerar a redução da pessoa à plena adoração da vida?

Não. Se tudo isto de utópico se tratasse julgaria não querê-lo, admito poder estar errado, contudo esse erro encerra em si aquela mesma ideia de utopia…

Concluo este artigo com Agostinho da Silva: “..um império do futuro precavido e purgado dos males que arruinaram os anteriores, sem manias de mando, ambições de ter e de poder, sem trabalho obrigatório, sem prisões e sem classes sociais, sem crises ideológicas e metafísicas. Esse já não era o império europeu, dessa Europa ávida de saber e de poder, e por isso esgotada como modelo para os outros 80% da humanidade, menos ávida de poder e mais preocupada com o ser.”

ACR

Alguns Dados Históricos..

Aconteceu neste mês:

1703. Portugal rompe relações com Espanha e França aliando-se a Inglaterra e Holanda.

1773. Coimbra recebe os primeiros instrumentos de física experimental e astronomia.

1890. "A Portuguesa", o actual hino nacional, é executado pela primeira vez, num sarau realizado em Lisboa.

1891. Empréstimo, de 36.000 contos, concedido ao estado português por financeiros portugueses, franceses e alemães em troca do monopólio do tabaco. Os financeiros portugueses mais importantes são Henry de Burnay e a Casa Fonsecas, Santos e Viana.

1948. Portugal e os Estados Unidos da América assinam um acordo que concede facilidades militares nos Açores às Forças Armadas americanas.

Um cheiro de poesia..

"Compreendi que a vida não é uma sonata que, para realizar sua beleza, tem de ser tocada até o fim. Dei-me conta, ao contrário, de que a vida é um álbum de minissonatas. Cada momento de beleza vivido e amado, por efêmero que seja, é uma experiência completa que está destinada à eternidade. Um único momento de beleza e de amor justifica a vida inteira".

Do Subsidiado ao que Subsidia

(Gostaria de vos expor este artigo de forma clara e concreta, até para não tornar a vossa leitura muito maçadora.)

Como sabemos, Portugal desenvolveu-se nos últimos anos, não só pelo trabalho comum efectivado pelos seus cidadãos, bem como pela “generosidade” dos nossos, dito por muitos e evitado por muitos, irmãos da UE. Esta tende a findar e pelos vistos o fim está próximo, pois deixaremos de ser um Estado subsidiado para ser um Estado que subsidia.

A questão coloca-se, no meu ponto de vista, do seguinte modo: E agora meus amigos? Proporcionámos-lhes meios financeiros para o vosso desenvolvimento, chegou a hora de contribuir.

Se bem conheço Portugal, para ser mais preciso, os governos portugueses, e porque o contribuinte português não é nada mais que o espelho do seu Estado, muito provavelmente irar-se-á conceber uma justificação que vise o adiamento por mais uns tempos desta questão invocando razões não de calamidade pública, mas desespero público. Sim, desespero público, porque por algum motivo os governos portugueses ainda não utilizaram este termo no diálogo político. Julgo ser agora o momento certo, senão vejamos:

- ½ milhão de desempregados (entre os quais 43/53 mil licenciados);

- o envelhecimento da nossa população potencia um cenário económico bastante frágil;

- os dados resultantes da análise das exportações de bens são muito baixos comparativamente com os das importações (um País que importa muito mais do que exporta, revela claramente a debilidade da sua Economia);

- a justiça não é célere e pelos vistos nem tão justa quanto devia (na minha opinião quanto maior a condescendência dos cidadãos de um país para com os que incorrem na prática de crime, maiores serão os índices de criminalidade desse país);

- a dívida da administração central é preocupante;

- na saúde, um estudo sobre as maternidades portuguesas evidenciava os seguintes resultados: 1/3 dos hospitais estão sem condições para partos (cerca de 10% dos bebes portugueses nascem sem as devidas precauções de segurança no que respeita à falta de médicos e enfermeiros, concluindo-se portanto, “tramados logo à nascença”. Para não falar no aumento das taxas moderadoras do serviço nacional de saúde (mais uma medida cega).

Enunciados estão, alguns exemplos bastante demonstrativos da situação real em que o país se encontra. É exactamente para isto que o voto do cidadão contribui. É precisamente esta a República que tanto amo e que apresentamos ao mundo.

Os doutos intelectuais (e refiro-me à presente classe política), gostam de reiterar o seguinte: … mas se as pessoas estão descontentes, então que reclamem junto de associações existentes ou criem movimentos de cidadania (veja-se o exemplo de Manuel Alegre, o que já promoveu e conquistou), e aí exponham o seu descontentamento, pois o Governo será sensível a esse tipo de manifestação.
Perante isto faço um mero ensaio: será que nenhum assessor do governo ou ministro, por exemplo, conhecem ou navegam pela blogosfera? Sei que é um termo novo, mas só o alheado não vê a real dimensão e o movimento público (esse sim verdadeiro e isento de qualquer espectro corporativo), que gera nos dias de hoje …talvez o plano tecnológico aí ainda não tenha chegado.

Por outro lado, não me venham falar de estudos europeus que demonstram o grau de optimismo dos portugueses na retoma económica. Segundo esse estudo, e visto sermos na actualidade o bode expiatório da Europa, somos o País que apresenta maior descrença. Porque será?

Entrando já numa fase de conclusão, creio que os subsidiados de quem falo, o meu povo, têm uma oportunidade, creio no meu País e no que conquistou ao longo destes séculos, essencialmente o respeito dos que agora subsidiam, pois até eles há algum tempo atrás foram subsidiados, vejamos os descobrimentos.

Não desejo, com este artigo, ser mais um céptico radical até porque no seu sentido tradicional, o cepticismo profundo é auto-refutante e acaba por não induzir nenhum processo racional, contudo, reconheço enraízado um “cepticismo epistemológico” referente à análise que faço sobre a eficácia e justeza de algumas decisões governamentais.

ACR