A ideia de utopia pressupõe algo inatingível e irreal, todavia proponho-me a questionar a definição desse termo dada muitas vezes por adquirida. Se a utopia é algo inacessível, então porque tanto, mas tanto no quotidiano se anseia? Onde está essa ilha que Thomas More tão bem descreveu e cuja assegurou a felicidade geral?
Será a guerra contra a necessidade uma utopia?
Será utópico pensar não impor ao homem tarefas, tendo por base a ideia de cidadão-produtor?
Será utópico achar que o ócio apenas leva ao comodismo e à inacção?
Seria utópico pensar um retorno à origem, em que a mera constatação dos verdadeiros direitos naturais se sobrepõe a qualquer tentativa de sua deturpação?
Será utópico considerar a redução da pessoa à plena adoração da vida?
Não. Se tudo isto de utópico se tratasse julgaria não querê-lo, admito poder estar errado, contudo esse erro encerra em si aquela mesma ideia de utopia…
Concluo este artigo com Agostinho da Silva: “..um império do futuro precavido e purgado dos males que arruinaram os anteriores, sem manias de mando, ambições de ter e de poder, sem trabalho obrigatório, sem prisões e sem classes sociais, sem crises ideológicas e metafísicas. Esse já não era o império europeu, dessa Europa ávida de saber e de poder, e por isso esgotada como modelo para os outros 80% da humanidade, menos ávida de poder e mais preocupada com o ser.”
ACR
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